domingo, 25 de fevereiro de 2018

Meus filmes favoritos: análise de 007 - Cassino Royale
Parte 1


Introdução:

A franquia 007 é a maior do cinema em número de filmes, passando por 5 décadas desde o primeiro filme em 1962, desde então o agente britânico criado por Ian Fleming passou por diversos atores e estilos diferentes, cada filme refletindo o cenário politico-cultural da época em que foi lançado.

São por esses motivos (além de já gostar de histórias de espionagem) que me considero um fã do personagem, James Bond é protagonista de 26 filmes (2 não oficiais), 18 livros (14 de Ian Fleming) e 27 games eletrônicos, além de incontáveis homenagens e paródias do personagem.

A primeira aparição de 007 foi no livro Cassino Royale de 1953,  pelo autor britânico Ian Fleming, Fleming foi um espião da Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial, então ele tinha experiência e conhecimento na área, apesar dos livros seguirem uma ideia mais fantasiosa da verdadeira espionagem. Muito da personalidade de Bond veio do próprio Fleming, ele também era carismático e mulherengo, de muitas maneiras Bond é uma exageração de Fleming, é como ele queria ser visto.

Fleming, Ian Fleming

O livro foi um grande sucesso na época, e logo recebeu uma adaptação para a televisão em 1954, mas o agente seria apenas adaptado para a tela grande em 1962 com "007 contra o satânico Dr. No", estrelando Sean Connery como James Bond. Quando se trata das adaptações, elas não seguem a cronologia dos livros. Casino Royale foi feito novamente como paródia em 1967, estando fora da cronologia oficial dos filmes, o filme foi um fracasso de crítica e público.

Vale lembrar que o James Bond dos filmes é um tanto distinto do Bond dos livros, muito do que o personagem é nas adaptações é mais baseado na personalidade que Sean Connery atribuiu ao agente, essa imagem do herói que faz piadinhas enquanto mata seus inimigos, dá cantadas em todas as mulheres que vê e sempre sai impecavelmente vestido e arrumado depois das cenas de ação é construção de Connery e de Roger Moore depois dele.

Nos livros, apesar de ainda ser mulherengo e ter alguns momentos de humor, Bond é uma pessoa bem séria e fria, alguns momentos sendo um personagem trágico, ele é um ótimo espião e um ótimo assassino, mas ainda é bem humano, ele comete erros constantemente e acaba pagando caro por isso.

Nos cinemas essa imagem do herói imbatível durou por décadas, e os atores que tentaram trazer um lado mais humano acabaram sendo mal vistos pelos fãs, como George Lazenby e Timothy Dalton, o que mais tinha conseguido misturar essas duas imagens e se saiu bem sucedido tinha sido Pierce Brosnan, mas ainda era bem pouco.


007 sempre foi ameaçado de desaparecer do gosto popular em todas suas décadas, nos anos 60 com o término da era Sean Connery, nos anos 70 com a estagnação e ridicularização da era Roger Moore, nos anos 80 com as tentativas falhas de seriedade da era Timothy Dalton, e nos anos 90 com o rápido cansaço da era Pierce Brosnan, esse último culminou no lançamento de "007 - um novo dia para morrer" em 2002, que foi considerado um dos piores filmes de toda a franquia e parecia ter enterrado de vez o personagem.

Mas assim como em todas essas décadas citadas, sempre houve um filme do agente que acabou revitalizando a franquia, e durante seu período mais escuro, um segundo filme de espionagem também foi lançado em 2002, com um outro agente com as mesma iniciais que foi um sucesso de critica e público, esse filme era "A Identidade Bourne".

Jason Bourne pegava muita inspiração de 007, mas com uma ideia mais realista, ele era frio e sério como o Bond dos livros, a trama era muito mais politica e semelhante ao que a espionagem realmente é, as lutas eram violentas ao invés de engraçadas, e o clima parecia bem mais apropriado para a época em que foi lançado, enquanto Bond ainda estava lutando com vilões comunistas megalomaníacos (esquecendo que a guerra fria já havia acabado há uns 20 anos), Bourne lutava contra o próprio sistema que o criou, era mais condizente com a paranoia pós 11 de setembro nos EUA, e ainda conseguia ser um filme empolgante e divertido de ação.


Com essa concorrência nova, Bond precisava de uma repaginada urgente, e com isso os produtores voltaram ao romance original, não havia melhor forma de reinventar Bond do que com sua primeira história, e Cassino Royale seria finalmente adaptado da forma correta para os cinemas. O diretor Martin Campbell foi escolhido para dirigir essa reimaginação da franquia, isso por já ter revitalizado 007 nos anos 90 com Goldeneye, e o novo James Bond seria uma escolha bem polêmica, o ator Daniel Craig.

Muitos fãs acharam uma péssima escolha, não que considerassem Craig um mal ator, mas pelo simples fato dele ser loiro, de acordo com a descrição de Ian Fleming, ele deveria ter o cabelo escuros, e todos os Bonds até então seguiram esse padrão. Pode parecer algo ridículo hoje, mas na época muitos reclamaram e até se recusaram a ver o filme por causa disso.

007 - Cassino Royale estreou em 17 de novembro de 2006 nos Estados Unidos, foi um mega sucesso de bilheteria (sendo o filme mais rentável da franquia até então) e o mais bem avaliado também, com 94% de aprovação no Rotten Tomatoes.


Com essa introdução feita, irei agora dissecar a película inteira e comentar porque acredito que esse é o melhor filme de 007 já feito de todos os 26, e porque é um dos meus filmes favoritos.


Análise:



Cassino Royale começa com uma sequência estilosa em preto e branco que imediatamente dá o tom resto do filme, Bond é mandado para matar um traidor da MI6 em Praga, após já ter matado o informante do traidor em um banheiro. Assim que ele termina o trabalho, Bond recebe sua licença para matar e seu status de 007.

Essa cena evoca o sentimento de um filme noir, um momento é definido pela atmosfera e tensão da conversa entre Bond e o traidor, e outro momento é definido por uma luta brutal no banheiro. Também mostra a astúcia de Bond ao descarregar a arma do traidor antes dele chegar no quarto, ficamos sabendo que ele é um personagem inteligente, violento e carismático.

No final da sequência temos o que seria a origem da icônica imagem de dentro do cano da arma, que está em todos os filmes da franquia desde "007 contra Moscou", geralmente os outros começam dessa forma sem nenhum contexto prévio, mas como esse deveria ser um reboot do personagem, o momento faz sentido na trama.


Então começa outro momento icônico dos filmes de 007, os créditos iniciais, ao som de You Know My Name de Chris Cornell, os créditos tem uma animação baseada em cartas de poker, não é a melhor abertura da série, mas faz bem seu trabalho. Considero a melhor música por gosto pessoal, é uma faixa bem rock n' roll que combina com o estilo do filme. Alguns anos atrás escrevi um post falando sobre esse tema em mais detalhe.


Depois temos a cena que introduz o vilões Le Chiffre (Mads Mikkelsen) e Mr. White (Jesper Christensen) em Uganda negociando com figuras bem suspeitas. Le Chiffre aparenta ser um vilão bem típico de 007, com seu visual excêntrico (leia-se europeu), deformidade no olho direito que o faz chorar sangue e asma, mas ele é um pouco mais complexo que isso, enquanto outros vilões da série querem dominar ou destruir o mundo, Le Chiffre é apenas um bandido que deve uma boa soma de dinheiro para uma organização criminosa (que os fãs antigos da franquia já devem saber qual), e Mr. White é apenas um agente dessa organização que observa as ações de Le Chiffre.


Mikelssen foi uma ótima escolha, ele é um ator que consegue ser intimador quando quer, mas que ainda é bem vulnerável comparado a organização, ele consegue passar isso muito bem, ele é perigoso, mas também parece assustado.


Já White mal parece humano, ele representa a face invisível da organização, age como um espectro, ele parece trabalhar para algo muito maior que os perigos dessa história, Jesper Christensen foi muito bem escolhido.

Depois disso começa a primeira grande sequência de ação do filme, uma perseguição com parkour em Madagascar, onde Craig mostra que seu Bond não tem medo de se sujar e se quebrar, enquanto o capanga tem certa graciosidade em seus movimentos, Bond é como se fosse uma máquina incontrolável perseguindo a qualquer custo.



Essa já é um dos melhores momentos de ação em toda a franquia, é tudo que uma cena desse tipo deve ser, é bem filmada, bem coreografada, criativa, brutal e muito divertida. Vale lembrar que Craig fez quase todas as cenas sem o uso de dublê, ele passou meses construindo o físico para poder filmar cenas desse tipo.

Após pegar a mochila do capanga, Bond olha o celular e encontra uma mensagem de Ellipsis, e ele passa a investigar o que significa isso.


Cortamos para um iate em um porto onde temos uma cena bem 007 de uma moça subindo as escadas depois de um banho de mar.


Dentro do iate, Le Chiffre está mostrando seus conhecimentos de Poker para dois jogadores, e vê em um laptop a notícia que um agente britânico matou um prisioneiro desarmado em Madagascar, ele cita a Ellipsis de modo misterioso.

 Agora vemos M (a chefe de Bond) xingando as ações de 007 em Madagascar, falando que se um agente fizesse isso na época da guerra fria, ele teria a decência de desertar. Corta para Bond em um quarto pesquisando o celular e ele descobre a ligação de Ellipsis foi feita em Bahamas, ele então invade o apartamento de M, que o xinga novamente e diz para ele tirar férias, Bond usa isso para ir para as Bahamas e investigar por conta própria.


Então temos outra cena bem 007 dele chegando em Bahamas com puro estilo, andando de carro e recebendo uma bela olhada da modelo gaúcha Alessandra Ambrosio, que faz uma cameo no filme.


Essa sequência de cenas é bem engraçada e evoca memórias dos filmes dos anos 60, onde Bond tem um magnetismo para todas as mulheres em cena, o que faz sentido no filme, Bond precisa usar seu charme para conseguir informações. Ele consegue entrar na segurança do hotel e  vê que o homem que fez a ligação dirige um Aston Martin, ele então pede a recepcionista se ela conhece o dono do carro e ela responde que o nome do homem é Sr. Dimitrius.


Temos então outro momento 007 puro com uma mulher andando de cavalo numa praia, enquanto Bond toma um banho de mar, ela então olha para ele, e somos apresentados a nossa primeira Bond Girl do filme, a bela Solange (Caterina Murino).


Bond usa o nome e senha de M (eles nunca explicam como ele conseguiu) para investigar quem é Dimitrius e quem são seus parceiros conhecidos, entre eles está Le Chiffre. Bond então vai até onde Dimitrius está jogando poker, ele entra no jogo, Solange aparece com um belo vestido e beija a testa do jogador.


Ele não parece muito impressionado.


Bond por outro lado, está bem impressionado.

Dimitrius faz a jogada genial de apostar tudo (incluindo o carro) no jogo, Bond obviamente ganha, e decide dar uma carona para Solange em seu novo Aston Martin.


Dimitrius conversa com Le Chiffre, e aceita fazer um trabalho para a organização. Enquanto isso, Bond esta se divertindo com Solange em seu quarto de hotel, quando o celular dela toca e ela fala com Dimitrius, Bond consegue ouvir que ele irá para Miami, sabendo disso, ele deixa a coitada de lado e vai embora.


Apesar de que muitos homens provavelmente ficaram decepcionados com a escolha de Bond, essa cena é interessante para mostrar que ele prioriza a missão acima de tudo, ele apenas a usou para conseguir informações e seguir Dimitrius, no momento em que ele consegue, não há mais motivos para ficar ali.

Isso é algo que Connery e Moore jamais fariam, por medo de "fragilizarem" suas masculinidades, já o Bond de Craig não tem tempo para isso, ele é macho demais para se preocupar.

007 segue Dimitrius até uma exposição de arte bem estilosa que usa corpos mumificados, observa e vê que ele coloca uma chave com o número 53 em uma mesa de cassino.


Bond então é surpreendido por Dimitrius, mas logo vira a faca e mata seu adversário, ou seja, Dimitrius morreu como viveu, como um completo idiota.


Bond olha o celular de Dimitrius e vê que ele ligou recentemente para Ellipsis, ele olha novamente para a mesa de cassino e vê que a chave sumiu.


Bond sai da exposição e liga para Ellipsis, um homem com uma bolsa atende o celular e Bond passa a o seguir.


Bond o segue até o aeroporto e fica vigiando o homem, o homem nota que está sendo seguido, abre a bolsa e veste um uniforme de guarda, Bond o segue até um hangar, onde irá acontecer a inauguração do maior avião do mundo, aparentemente o homem irá colocar uma bomba no avião a mando da organização.

O que se segue é a segunda grande sequência de ação do filme, a perseguição do aeroporto é o tipo de cena que geralmente seria usada no final de qualquer outro filme de ação, pois ela também é magistralmente dirigida, o sentido de urgência é bem real, é uma parte que lembra os melhores momentos de Caçadores da Arca Perdida e de Velocidade Máxima.


Após essa segunda dose de adrenalina, Le Chiffre faz uma ligação dizendo que perdeu mais de 100 milhões de dólares por conta da intervenção de Bond, e isso será o principal ponto do resto do filme que ligará com o livro, Le Chiffre participara de um jogo de poker multimilionário com o objetivo de arrecadar esse dinheiro de volta e pagar a organização, senão ele será assassinado.


O livro de Ian Fleming já começa durante o jogo, então toda essa parte até aqui foi um enorme prólogo, Cassino Royale parece dois filmes juntos em um só, e enquanto isso poderia dar muito errado, funciona perfeitamente aqui, ele introduz todos os personagens de forma orgânica, não é preciso de um dialogo expositivo vagabundo no meio das cenas seguintes, pois o filme já apresentou muito bem qual é a trama e o que está em jogo nessa primeira hora.

Por isso, e para não deixar essa postagem estupidamente longa, eu dividirei em duas partes, enquanto essa primeira parte do filme se foca mais na ação e introdução do personagem de volta as telas, a segunda parte se foca mais no jogo de poker, na tensão entre os jogadores, e devo dizer que é uma adaptação bem fiel ao livro em suas devidas proporções.

Até a próxima parte.




 

 




sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Minhas músicas favoritas de 2017


Olá, pessoal.

Todo inicio de ano começo a relembrar quais foram minhas coisas favoritas que passaram, pensando nas músicas, séries, filmes e outros que fizeram 2017 ser memorável. Meu descontentamento com 2016 foi bem claro nas postagens anteriores, acho que foi um dos piores anos para muita gente, e na cultura pop, foi no minimo apenas decente. Em contrapartida, 2017 foi um pouco melhor, o que já era ruim ano passado continuou ruim, mas algumas coisas tiveram melhorias consideráveis, se era preciso cavar fundo para achar algo bom antes, nesse ano foi bem mais fácil.

Na música, tivemos ótimos lançamentos por todo o ano, cada mês tinha algo bom para ouvir, a maioria das bandas famosas lançaram bons materiais, e outras novas bandas fizeram sua marca também.

Então, segue abaixo a minha lista de músicas favoritas, o meu mixtape do que foi lançado esse ano que eu considerei bom, começando com algo mais pop e passando por rock e alternativo, em nenhuma ordem de preferência com exceção de um top 3 do final.

Seasons Run - The XX


O ano já começou forte com o lançamento do terceiro álbum da banda The XX, I See You tem ótimas músicas, se possível eu colocaria várias aqui na lista, como Dangerous, Lips, I Dare You e especialmente Replica, mas acredito que Seasons Run é a melhor do disco, apesar de ser uma faixa bônus da versão deluxe, significando que até mesmo quem comprou o CD pode nem ter ouvido. A letra é bem interessante, falando sobre deixar as estações passarem, não notando a passagem de tempo durante o ano, de certa forma, foi assim que me senti por boa parte de 2017, me pareceu muito rápido, como se as coisas não mudassem muito de janeiro passado até aqui.

Andromeda - Gorillaz


Humanz foi um dos lançamentos mais antecipados do ano, o último álbum da banda animada foi em 2011, então as expectativas dos fãs estavam bem altas, e aparentemente, o disco não atingiu muito bem o esperado, pois a maioria dos fãs pareceu ter ficado bem decepcionados com o trabalho. Eu discordo totalmente dessas opiniões, Humanz é possivelmente o meu favorito da banda, é claro que não tem o mesmo nível de experimentação que os discos anteriores tinham, e conta com mais trabalho dos feats do que a própria banda, mas em minha opinião, esse disco é mais focado, o estilo é bem pop, mas ainda é estranho o suficiente para soar como Gorillaz, Andromeda é minha segunda favorita, é uma das poucas faixas que tem o vocal de Damon Albarn, vulgo 2D.

The Apprentice - Gorillaz


Qual é a da mania de algumas bandas de colocar a melhor faixa como bônus? The Apprentice é a melhor do álbum para mim, mas assim como Seasons Run, é possível que muita gente não tenha ouvido, contando com os vocais de Rag n' Bone Man, Zebra Katz, RAY BLK e Damon Albarn, o refrão é provavelmente o melhor do ano.

Green Light - Lorde


Após o grande sucesso de Pure Heroine em 2013, Lorde passou um bom tempo planejando como seria seu próximo álbum, um processo semelhante ao de Adele com seu 25, eu pessoalmente não gostei muito de Melodrama e não acho que seja a obra prima que muitos fãs disseram ser, mas é decente, e Green Light é uma ótima música, é pop o suficiente para tocar na rádio constantemente e alternativa o suficiente para agradar os fãs dela.

Hard Times - Paramore


Eu sinto que Paramore é uma das poucas bandas que se tornou melhor quando virou pop, nada contra sua fase emo anterior (eu mesmo sou culpado por ouvir Decode e Ignorance escondido dos meus amigos), mas acho que a banda se encaixou melhor nesse novo estilo, Hayley Williams está ótima como sempre, e o resto da banda parece estar se divertindo bastante nessa que é uma das faixas mais animadas sobre depressão que já ouvi.  

Pay the Man - Foster the People


Outro disco bem antecipado, Sacred Hearts Club foi uma ótima adição ao catálogo da banda, Pay the Man é certamente bem estilosa, uma das músicas que mais ouvi em 2017, só fica em segundo lugar para outra faixa do mesmo álbum que colocarei bem acima (no top 3 do ano).

No Distraction - Beck


Parece que todo artista alternativo está se mudando para algo mais pop, Beck tem uma carreira que começou no inicio dos anos 90, sempre foi um artista bem experimental, em seu novo álbum Colors, ele experimentou algo mais dançante, e No Distraction é um ótimo exemplo, apesar de achar que Dreams é a melhor faixa do disco, ela foi originalmente lançada em 2015, então tive que escolher a segunda melhor.

Suburban Wonderland - The Heirs


Descobri essa música pelo canal do Youtube ARTV, onde esse foi votado como o melhor clipe de 2017, e em minha opinião, fica apenas atrás da minha próxima escolha abaixo. A música é muito boa também, o refrão é um dos melhores que ouvi nesse ano. 

 MONDO GROSSO / ラビリンス



É estranho pensar que boa parte do meu gosto musical vem de recomendações do YouTube, por muito tempo essa imagem acima permaneceu na minha página inicial, até que por curiosidade decidi ouvir, e sai bem surpreso. Não faço ideia qual a letra da música ou nem mesmo qual o significado do titulo, mas tem algo muito mágico sobre esse clipe, onde a vocalista passeia e dança pelas ruas coloridas de Hong Kong à noite, as imagens são lindas e combinam perfeitamente com a música.


Scary Love - The Neighbourhood


Acho The Neighbourhood uma banda um tanto superestimada, Sweather Weather é uma das melhores músicas da década (até então) na minha opinião, mas achei os dois álbuns deles bem fraquinhos, e o disco solo de Jesse Rutherford é péssimo (o que é bom para mostrar para alguns fãs que a banda é muito mais do que ele), com isso dito, Scary Love foi lançada em dezembro e é muito boa, se o próximo álbum seguir nesse estilo, tem potencial.

Lights Out - Royal Blood


Mudando para rock agora, Royal Blood é um ótimo duo que me lembra bastante de uma banda chamada Death From Above 1979, tem muito de Queens of Stone Age aqui também, e se você me conhece, sabe que gosto muito desse estilo, Lights Out é a melhor do disco How Did We Get So Dark lançado em maio.

Bleeding in The Blur - Code Orange


Alguém me recomendou essa banda, ouvi o álbum e não curti muito, pois o resto é metalcore, um estilo que realmente não me atrai, mas apesar disso, Bleeding in The Blur é fantástica e me lembra algumas das melhores músicas do Alice in Chains.

16 Psyche - Chelsea Wolfe


A nova rainha das trevas Chelsea Wolfe sempre flertou com metal, mas nunca foi exatamente o estilo dela, em seu último álbum chamado Hiss Spun, ela finalmente lançou algo mais pesado, com o guitarrista Troy Van Leuween do QoTSA, acho bem interessante que ela manteve os vocais leves em contraste com as guitarras pesadas.

Head Like a Haunted House - Queens of The Stone Age


Aproveitando a citação acima, já falei bastante desse álbum anteriormente em um post próprio, Head Like a Haunted House é uma das faixas mais divertidas do ano.

The Sky is a Neighborhood - Foo Fighters


Houve uma época em que Foo Fighters foi minha banda favorita (você pode ver aqui), hoje em dia eu já não escuto tanto mas tenho um carinho eterno pela banda, fiquei um tanto decepcionado com este novo álbum chamado Concrete & Gold, é um disco que não traz nada de novo, a maioria das faixas parecem cópias de outras da banda, The Sky is a Neighborhood é provavelmente a melhor, é uma música forte e grudante.

E agora, ao top 3:

3. Fortress - Queens of The Stone Age

  
A melhor música do álbum, Fortress tem uma linda mensagem de superação, fazendo uma metáfora bem interessante sobre fortalezas emocionais, achei necessária em tempos difíceis como este.

2. SHC - Foster The People


A minha favorita do álbum, SHC começa com um riff contagiante de guitarra e continua ótima por seus quatro minutos, a letra é muito boa e me ajudou bastante nesse ano, falando sobre saber quais são seus problemas e fazer o melhor para superá-los.

1. I Was a Fool - Sunflower Bean


Descobri essa música recentemente e fiquei obcecado, é como se Dreams do Fleetwood Mac estivesse sendo lançada nesta época, de fato, é quase um plágio da música citada, mas é diferente o suficiente para ser nova, pode até parecer que estou falando mal (o que não faria sentido nenhum, já que coloquei em primeiro lugar),mas se alguma banda pretende homenagear um clássico, é assim que se faz, eu amo o baixo que conduz a música, o refrão, a letra e a voz da vocalista, é tudo perfeito na minha opinião, me faz me sentir nostálgico por coisas que nem vivi.



domingo, 1 de outubro de 2017

Rumo à Surdez: Discografias Comentadas - Queens of The Stone Age - Parte 3

Era Vulgaris (2007)
Duração: 47:53


 Era Vulgaris foi lançado em 11 de junho de 2007, com uma grande campanha de marketing feita na internet, algo que viraria padrão nos álbuns subsequentes, Troy Van Leuween retorna na guitarra e Joey Castillo na bateria, Michael Shuman assume o baixo dessa vez, substituindo Alain Johainnes que tocou em Lullabies. Assim como todos os outros álbuns da banda, Era Vulgaris conta com diversas participações especiais, apesar de algumas terem sido cortadas no trabalho final.

O som dessa vez é bem mais "sujo" que Songs e Lullabies, parecendo mais uma mistura dos dois primeiros álbuns com alguns instrumentos eletrônicos dessa vez, essa mudança é bem notável desde a primeira faixa Turnin' On The Screw, a letra é bem interessante, com um caso sério de auto-depreciação em trechos como "I'm so tired, and i'm wired too, i'm a mess, i guess i'm turning on the screw", temos uma faixa bem experimental aqui, tanto que a música nem tem um refrão consistente, muitos fãs já tiveram um estranhamento rápido.

Pessoalmente, eu adoro essa música, mas admito que na primeira audição ela é bem estranha, até mesmo para os padrões da banda, me lembro que quando tocaram no show em que fui (em Porto Alegre em 2014), teve um certo silêncio entre o público, enquanto faixas como Go With The Flow e Little Sister faziam todos pular ou cantar junto.


Sick, Sick, Sick foi o primeiro single lançado desse disco, é uma faixa bem mais popular, mas a acho um tanto repetitiva, afinal o riff é apenas uma nota tocada em tempos diferentes, Julian Casablancas dos Strokes participa dos backing vocals na segunda metade da música, o clipe é um tanto nojento, e mostra definitivamente que a banda tem uma queda por canibalismo.

  
I'm Designer continua com o som bizarro do álbum, e uma letra mais bizarra ainda, mas o refrão é bem legal, vale dizer que o tema desse álbum é uma viagem do deserto de volta para Los Angeles , então muito das letras são uma critica ao estilo de vida Hollywoodiano, se em Songs o tema era fugir de Los Angeles, Era Vulgaris é sobre voltar lá.


Into The Hollow volta mais ao estilo de Lullabies, com um som bem mais agradável e uma letra triste e um tanto romântica.

  
Possivelmente a melhor combinação desse novo som é Misfit Love, pessoalmente a minha favorita do álbum, a letra é insana assim como o som, com um final instrumental espetacular, a música inteira é uma bagunça, e parece que no final tudo se encaixa, considero uma das melhores da banda.

"Just a dead man walking through the dead of night..."

Battery Acid é provavelmente a mais esquecível do álbum, é um punk rock divertido, mas fica um pouco abaixo do resto, Make It Wit Chu foi o último single lançado do álbum, é provavelmente a música mais famosa do disco, apesar de fazer aparições nos Desert Sessions desde 2003, a versão original era um dueto de Homme com a cantora P.J. Harvey. O clipe foi gravado no estúdio Rancho de La Luna (onde gravam os Desert Sessions) e lançado no Halloween de 2007.


A versão original

 3's & 7's foi o segundo single lançado, é uma ótima música, até parece que a guitarra dá uma risada no riff, a faixa foi incluída no jogo Guitar Hero III: Legends of Rock, que acredito que seja onde a grande maioria tenha ouvido, me lembro de ser uma música bem divertida de jogar. O clipe é uma homenagem ao cinema exploitation dos anos 70.


Suture Up Your Future é a antítese da faixa acima, essa é bem depressiva e me poderia perfeitamente estar no próximo álbum da banda (Like Clockwork), as versões acústicas dessa música costumam ser muito boas também. 


River In The Road tem um ótimo trabalho de guitarra de Leuween, me lembra de faixas como Hangin' Tree e The Sky Is Falling de Songs, e a última música Run, Pig, Run é provavelmente a mais assustadora do álbum, também lembra Someone's In The Wolf um pouco, eu adoro aquele trecho em 3:30 até o final.




Era Vulgaris recebeu criticas positivas pela maior parte, mas também recebeu algumas negativas, todos os outros álbuns receberam no mínimo avaliações medianas, é a opinião de vários fãs que este é o álbum mais fraco da banda, mas está muito longe de ser ruim, tem apenas três faixas não muito memoráveis, o problema é que ele não dá uma impressão tão grande quanto o restante da discografia, mas no geral eu ainda daria uma nota bem alta, faixas como Misfit Love, Make It Wit Chu e 3's & 7's são algumas das melhores da banda.

Lista de músicas:

1. Turnin' On The Screw
2. Sick, Sick, Sick
3. I'm Designer
4. Into The Hollow
5. Misfit Love
6. Battery Acid
7. Make It Wit Chu
8. 3's & 7's
9. Suture Up Your Future
10. River In The Road
11. Run, Pig, Run

 Algumas faixas que ficaram fora:

White Wedding

Um cover bem lento e atmosférico do clássico do Billy Idol. 


Era Vulgaris
Seria a faixa-titulo, mas Homme a considerou muito fraca para carregar o nome do álbum, contém a participação de Trent Reznor do Nine Inch Nails.

Needle's In The Camel's Eyes  


...Like Clockwork (2013)
Duração: 45:59


 Após cinco longos anos depois de Era Vulgaris, ...Like Clockwork foi lançado em 4 de junho de 2013, também com um grande trabalho de marketing (que eu cheguei a acompanhar), vários clipes com animações foram lançados antes do álbum, geralmente não com toda a música, mas apenas com uma prévia, são esses vídeos que usarei, pois é bem difícil achar as versões completas no YouTube, realmente tem que ouvir o álbum para pegar tudo.

Joey Castillo saiu da banda e deu lugar a Dave Grohl, que voltou para esse álbum, mas parte do trabalho de Castillo ainda está presente no disco, as participações são diversas, com os ex-integrantes Mark Lanegan, Alain Johannes e Nick Olivieri, e outros como Alex Turner do Arctic Monkeys, Trent Reznor do Nine Inch Nails e Elton John (que não precisa de apresentações). Apesar das voltas de Grohl e Olivieri, Michael Shuman continua no baixo e Jon Teodore (do The Mars Volta) assumiu a bateria nos shows que se seguiram, Leuween também continua na guitarra.

 A primeira faixa Keep Your Eyes Peeled tem um dos riffs mais "sujos" e é certamente a mais pesada, o clipe tem a arte do artista Boneface (que também desenhou a capa), pessoalmente é a minha menos favorita do disco, gosto do riff mas acho a música em si um tanto entediante.


I Sat By The Ocean é um pop rock bem divertido que lembra a época Songs/Lullabies. Foi o segundo single e já se tornou um padrão nos setlists dos shows da banda.


The Vampyre of Time And Memory é uma faixa bem única no repertório da banda, sendo o piano o instrumento principal, vale dizer que ...Like Clockwork é definitivamente o álbum mais sombrio da banda, as letras são bem depressivas aqui, minha interpretação dessa música é o sentimento de se sentir sugado por memórias passadas e não conseguir seguir em frente (o que explica o vampiro do título).


 If I Had A Tail também soa diferente do normal, tendo um som dançante bem anos 80, é outra faixa que poderia muito bem ter virado single, Alex Turner e Nick Olivieri fazem backing vocals, mas é bem dificil identificar eles, a letra volta a alguns temas explorados em Era Vulgaris, e o clipe é bem estiloso.



My God Is The Sun foi o primeiro single a ser lançado, a música foi revelada no Loolapalooza Brasil de 2013 (eu lembro porque eu assisti), é uma faixa bem hard rock que a banda esta acostumada a fazer.



Kalopsia é talvez a faixa mais estranha do disco, tem uma grande influência de Alex Turner do Arctic Monkeys, que faz backing vocals junto com Trent Reznor, Turner veio com o titulo da música também, a palavra Kalopsia significa uma condição em que as coisas parecem mais bonitas do que realmente são, infelizmente o clipe é bem curto e só mostra um trecho da música.




Fairweather Friends é a junção das participações especiais, Turner, Olivieri, Lanegan e Reznor estão nos backing vocals e Elton John toca o piano, é uma faixa épica e eu recomendo muito procurar a faixa de estúdio.

Smooth Sailing é puro Eagles of Death Metal (outra banda de Homme), é uma das faixas mais divertidas do disco e tem o único clipe que não é uma animação, contém o típico humor negro dos videos da banda.


 Agora para a melhor música do álbum, e há quem diga que é a melhor música da banda, I Appear Missing é épica, e eu diria certamente que é o melhor trabalho da banda (apesar de minha favorita ainda ser Go With The Flow), a letra foi inspirada em um acontecimento da vida de Homme em que ele passou por uma cirurgia e seu coração parou de bater por alguns segundos, ele foi revivido pelos médicos, mas passou uns 4 meses em estado de depressão, isso é notável em alguns trechos como "Calling all comas" e "Pinned like a note in a hospital gown" . O vídeo é meu favorito dos que foram lançados, apesar de que há um problema sério nele, não tem o final da música.



O final dessa música é uma das coisas mais poderosas que já ouvi, lembro que a primeira vez cheguei a me arrepiar com o solo de guitarra e o modo como a música cresce num ápice, essa parte é o suficiente para comprar o álbum, felizmente achei um vídeo que tem o final completo.



Se o resto do disco já não fosse triste o suficiente, a faixa título ...Like Clockwork é pra destruir emocionalmente de uma vez, toda a faixa é dominada pelo piano e pela letra depressiva, não é um final feliz, inclusive o último trecho é "It's all downhill from here".


...Like Clockwork foi aclamado pela crítica, ficando apenas atrás de Songs for The Deaf no Metacritic, os fãs também reagiram muito positivamente ao disco, pessoalmente ele é meu segundo favorito, todas as faixas aqui são muito fortes e estão entre as melhores músicas da história da banda, de um ponto de vista artístico, é definitivamente o melhor trabalho do grupo, mas ainda acho que Songs tem um impacto maior.

Villains (2017)
Duração:  48:00



Após a turnê de Like Clockwork, Homme disse em entrevistas estar trabalhando em material novo, e tocou a música Villains of Circumstance em shows (isso ainda em 2014), apesar disso, levou mais três anos e meio para o novo álbum ser anunciado, porque muitos dos membros da banda estavam em projetos derivados, Homme e Ferdita se juntaram com Iggy Pop e formaram a banda Post Pop Depression, que lançou álbum ano passado, Michael Shuman trabalhou no segundo disco de seu grupo Mini Mansions em 2015, e Leeuwen tocou guitarra no supergrupo Gone is Gone.

Até que em junho desse ano foi postado um vídeo no canal da banda com um skit de humor anunciando o novo álbum, foi revelado que o disco se chamaria Villains e que o famoso produtor Mark Ronson estaria produzindo, mais conhecido por seu trabalho com artistas pop como Adele, Lady Gaga e Bruno Mars (o hit Uptown Funk é de autoria dele, Mars apenas participa), a data de lançamento foi 25/08/2017.



Alguns fãs acharam estranho a escolha de Ronson como produtor, apesar do próprio ser um mega fã da banda, foi dito no vídeo que o som desse disco seria mais "dançante" , então muitos ficaram receosos que a banda gravaria algo bem mais pop, deixando o rock de lado, como algumas outras bandas costumam fazer.

Felizmente não é o caso, o estilo do QoTSA ainda se mantém bem notável nesse novo trabalho, apesar de algumas pequenas diferenças, esse é o primeiro disco da banda que não contém nenhuma participação especial, por exemplo.

Feet Don't Fail Me Now abre o disco em ótima forma, com uma intro de 1 minuto e meio antecipando um riff bem divertido, realmente tem uma vibe mais dançante, mas ainda é puro Queens of The Stone Age.


Um pouco depois do vídeo anunciando o álbum, o primeiro single foi lançado, The Way You Used To Do é bem energética, é uma boa escolha de single, mas comparada ao resto do álbum ela se tona um pouco fraca, o riff e refrão não parecem muito originais.


Domesticated Animals lembra muito algo tirado de Era Vulgaris, tem um pouco de I'm Designer, a letra é bem interessante e ela cresce bem perto do final.


Fortress é muito boa, com uma das poucas letras positivas da banda, parece ser uma mensagem de Homme para suas filhas (arte do vídeo parece indicar isso), com a ideia de que cada pessoa constroi uma fortaleza emocional que a faz sentir segura, e quando é destruida ela pode reconstruir ou buscar refúgio nas fortalezas das pessoas que ela ama. 

"It ain't if you fall
But how you rise that says who you really are"

Head Like A Haunted House está destinada a ser a favorita de muita gente nesse álbum, é a mais dançante do trabalho, o riff é ótimo, a letra é insana e divertida de cantar.


Un-reborn Again até um tempo atrás era facilmente a mais "passável" para mim, mas após ouvir diversas vezes, acho seriamente que é a melhor do álbum, tem muito de Like Clockwork aqui, o refrão é espetacular e tem um trabalho multinstrumental no final que a diferencia do resto do disco.

 "Frozen in pose locked up in amber eternally 
Buried so close to the fountain of youth you can almost reach"

Hideaway acabou se tornando a mais pássavel dessa vez, apesar que ainda a acho uma faixa bem legal, a letra é interessante e a parte instrumental também, o único problema é que ela nunca cresce para algo melhor, apenas mantém o mesmo ritmo do inicio.



The Evil Has Landed foi o segundo single do álbum, o riff é bem forte e o ritmo é legal, realmente parece algo tirado do Them Crooked Vultures, mas não acho que foi uma boa escolha para single (Head Like A Haunted House deveria ter sido), é uma faixa longa e meio repetitiva, não vende muito bem o disco.



Por último, Villains of Circumstance poderia muito bem ter sido a I Appear Missing desse disco, e por um momento até parece que vai ser, mas a parte final é um tanto decepcionante, é claramente uma faixa de Like Clockwork que ficou de fora (tanto que foi composta um pouco depois do lançamento em 2013), eu gosto da letra e da ideia de um "vilão trágico", mas acho que poderia ter sido bem melhor, falta um solo no final.



As críticas foram pela maior parte bem positivas, não tanto quanto seu antecessor e nenhuma negativa como em Era Vulgaris, também está vendendo bem, dessa vez ficou em terceiro lugar na Billboard 200 na semana de lançamento. 

Pessoalmente considero o trabalho mais fraco da banda até então, mas isso só prova o quão boa a banda é, pois esse ainda é um álbum acima da média e vale lembrar que nenhum disco da banda está abaixo, todos são bons de alguma forma, seja o som mais sujo de Queens e Era Vulgaris, a fábrica de hits de Songs e Lullabies, ou os sombrios Like Clockwork e Rated R, Queens of The Stone Age é a banda de rock moderna mais consistente no mercado.






 

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Resenha do filme: IT - A Coisa


Não há dúvidas que Stephen King é um dos autores modernos mais famosos e influentes, com diversos livros e adaptações para o cinema, algumas entre os melhores filmes de todos os tempos, como Um Sonho de Liberdade e O Iluminado, o livro IT é uma das obras primas do autor, com aproximadamente 1.102 páginas (pelo menos na edição que eu li) de horror, drama e até mesmo humor.

A primeira adaptação da história aconteceu em 1990 em uma mini série de TV, com a atuação icônica de Tim Curry como o palhaço assassino Pennywise, o filme original tem suas qualidades, a relação entre as crianças foi muito bem feita e a atuação de Curry é bem divertida, mas é uma obra que envelheceu mal, os efeitos parecem ser bem mais velhos do que a época do lançamento, e no geral ele não é mais tão assustador, tendo cenas risíveis em alguns momentos que deveriam ser sérios.

"Olá crianças, querem comprar um bagulho mágico?"

Então, diferente de diversos outros remakes que são bem desnecessários, IT é um filme que poderia muito bem ser melhorado, pois a mini-série corta muito dos detalhes mais agressivos do livro (até para poder passar na tv na época), o filme novo poderia finalmente mostrar essas partes e ser mais fiel ainda ao livro.

Felizmente, IT- A coisa não é apenas um dos melhores remakes já feitos, mas também é uma adaptação quase perfeita da atmosfera e estilo de Stephen King.

A trama conta a história da infância de um grupo de amigos na cidade fictícia de Derry (no Maine, assim como praticamente todas as histórias de King), diversas crianças desaparecem deixando apenas pedaços dos corpos, esse grupo é aterrorizado pelo palhaço assassino Pennywise, que consegue mudar de forma para assustar as crianças de acordo com seus medos e devora-las.

 Acima de tudo, IT é um filme sobre amizade

Apesar de se vender como um filme de terror pesado, acho melhor começar dizendo que IT não é exatamente isso, o filme certamente é violento (crianças morrem aqui de forma agressiva) e tem uma atmosfera assustadora, mas o foco é a amizade do grupo, os problemas que eles passam em casa e os traumas que precisam enfrentar, IT é como um Conta Comigo (também de King), só que com um palhaço demoníaco que se alimenta de crianças, se não fosse o teor violento do filme, ele poderia passar tranquilamente em uma Sessão da Tarde.

Isso pode decepcionar muitas pessoas, mas esse é exatamente o motivo de eu ter amado tanto esse filme,  IT é o tipo de filme que eu adoraria assistir quando moleque, apesar de não ter idade para ver, provavelmente seria um dos meus filmes favoritos, pois sempre tive uma relação especial com terror, eu morria de medo, mas continuava procurando coisas para me assustar, e esse sentimento dura até hoje.

Isso não funcionaria se o elenco não fosse tão maravilhoso, as crianças são ótimas nos papéis e fazem o filme funcionar, principalmente Finn Wolfhard (mais conhecido por Stranger Things, que é muito inspirado pelo estilo de King) como Richie, a criança comediante que traz muito do humor do filme, Jaeden Lieberher e Sophia Lilis também estão muito bem como Bill (o moleque com gagueira e líder do grupo) e Beverly (a única menina do grupo).

O terror e humor do filme se encaixam bem pela maior parte, alguns reclamaram que acharam o humor muito excessivo, até consigo entender a reclamação, mas acho que ficou bem balanceado, afinal, nós vemos o ponto de vista das crianças na história, eles não tem a mesma reação que um adulto teria se confrontado com a mesma situação, o importante é que a relação entre elas funciona muito bem, e esse é o coração do filme.

Geralmente em filmes de terror, os personagens são odiáveis, para que o público queira que eles morram, isso não acontece aqui, você acaba se preocupando com as crianças, você não quer que ninguém caia nas garras de Pennywise, então quando as partes de terror começam, os perigos e as perdas são reais, pois o filme já deixa claro desde a primeira cena que crianças não serão poupadas só por serem crianças.

Falando no palhaço, Bill Skasgard faz um bom Pennywise, sua atuação é bem diferente da de Curry, este é bem mais monstruoso mesmo, com uma movimentação e fala estranhas, tem algo de "alienígena" nele (o que faz total sentido considerando o livro).


Não cheguei a ler todo o livro, mas posso dizer que esse filme é bem mais fiel ao espírito do original do que a mini-série,  até a primeira cena contem contém um detalhe bem interessante, a primeira vez que Georgie vê Pennywise no bueiro, inicialmente seus olhos são amarelos, mas mudam para azuis quando Georgie chega mais perto, até mesmo esse detalhe foi colocado no filme. Apesar disso, ainda tem algumas mudanças, uma cena do livro em especifico que todo mundo agradece ter sido ignorada, quem leu provavelmente vai saber do que estou falando.

O filme é longo, mas não se estende mais que o necessário, alias, ele poderia ser mais longo em certas partes (que logo comentarei nas criticas), é uma das poucas adaptações divididas em duas partes que realmente faz sentido.

 As únicas criticas que tenho a fazer é que alguns personagens não recebem tanto desenvolvimento quanto outros, Mike (Chosen Jacobs) é o único do grupo que tem pouco tempo na tela, e Henry Bowers (Nicholas Hamilton) é apenas explorado em uma cena muito curta e difícil de engolir, sabemos que ele é um bully e certamente tem problemas familiares, mas acho que a ação dele naquela cena é bem exagerada.

 Algumas cenas de terror não funcionam muito bem, muitos reclamaram que o filme não é assustador, e apesar de discordar (a cena do bueiro e do data show são bem tensas), admito que há pouca sutileza aqui, os monstros aparecem na tela com um CG bem notável que meio que te tira o medo, mas mesmo assim acredito que o terror realmente não é o foco da história e nem deveria ser, até mesmo no livro isso é mais um bônus.

Apesar dessas falhas, IT - A coisa é a melhor adaptação que o livro poderia ter, eu amei cada minuto do filme e já é um dos meus favoritos nesse ano.

Nota: 9/10